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Foto do escritorRejane Bins

4º Passo da Leitura Orante: Contemplação


Com o fim do mês de setembro, mês da Bíblia, nós vamos encerrar nossa formação, em que escolhemos o caminho espiritual da Leitura Orante da Palavra de Deus para aprofundar o convite do Senhor e da Igreja a saborear a Palavra e a realmente vivê-la.


É hora de conhecer um pouco melhor o último passo proposto pelo monge cartuxo D. Guigo.



Já vimos que Dom Guigo, escrevendo ao Irmão Gervásio, ao falar de suas reflexões, fez uma alusão à passagem do sonho de Jacó, no qual o patriarca viu “uma escada, que, apoiando-se na terra, tocava com o cimo o céu; e anjos de Deus subiam e desciam pela escada” (Gn 28,12). Então Guigo concluiu que, assim como os anjos subiam essa escada, todos os cristãos devem subi-la, por meio de quatro degraus: leitura, meditação, oração e contemplação.



Chegamos, hoje, à esta última etapa (contemplatio). A palavra vem do latim: contemplare, e significa “estar sob o templo”, ou seja, “sob a presença de Deus”. É mais que um simples ver, é estar, permanecer com e em Deus.



Aqui há uma certa elevação da alma a Deus, suspensa acima dela mesma, degustando as alegrias da eterna doçura. Experimenta-se o amor de Deus, aquilo que João disse em sua Primeira Carta: Deus é amor. Após os três primeiros passos da Leitura Orante, no momento de contemplação nos sentimos profundamente amados. A contemplação leva o orante a uma quietude saborosa e tranquila, a um repouso do ser e do fazer, a uma experiência profunda do Deus verdadeiro, e é esta experiência que revela a face divina amorosa e próxima.



Além disso, durante a contemplação, assumimos como dom de Deus o olhar com que Ele julga a realidade, e nos interrogamos: qual é a conversão da mente, do coração e da vida que o Senhor nos pede? São Paulo, na Carta aos Romanos, afirma: “Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, a fim de conhecerdes a vontade de Deus: o que é bom, o que Lhe é agradável e o que é perfeito” (12, 2).



A contemplação tira o véu do nosso espírito, e ajuda a descobrir o projeto de Deus na história que hoje vivemos, a enxergar o mundo de maneira nova. Leva-nos a perceber Cristo como centro de tudo. Pode acontecer, por exemplo, que venhamos a sofrer, como na via sacra, pelo que Jesus sofreu, e até chorar. Ou chorar os nossos próprios pecados. Sentimos como e o quanto somos pecadores, e choramos por isto. Às vezes, no entanto, contemplar é ficar em silêncio com Deus.



Pela contemplação, somos convidados a penetrar no mistério de Deus também em nossa história pessoal; a repousar na presença de Deus e a deixar de lado nossos esforços humanos, pois não são capazes de nos levar a subir a montanha da oração.



Contemplar é dom e é graça. É enxergar, saborear e depois agir. A pessoa é transformada pela Palavra de Deus, por isso contempla a presença de Deus em suas vivências, e adquire um novo olhar sobre a realidade, que deverá aprofundar ao longo de sua vida.



Essa comunhão com Deus deve e vai ter consequências práticas, levando a atitudes novas na vida diária. Impele a viver “esta” Palavra de Deus, de modo que as metas do Senhor se tornem as nossas, Seus planos os nossos, Seus valores os nossos valores.

Crescendo na compreensão do sentido e da força da Palavra de Deus, vamos sendo transformados e nos tornando capazes de transformar a realidade.



Por essa razão, Bento XVI recordava, na Exortação Apostólica Verbum Dominum, que a lectio divina não está concluída, na sua dinâmica, enquanto não chegar à ação (actio), que impele o fiel a doar-se aos outros na caridade. A meditação cristã sempre leva a uma mudança, a uma ação, pois, como diz São Paulo: “Cristo nos impulsiona” (2 Cor 5,14).



Por isso mesmo, ao final de cada Leitura Orante, vamos anotar aquilo que foi rezado e contemplado, para poder rever mais tarde, e não perder essa graça que nos foi dada nesse dia.



Tudo isso que vimos até aqui não é somente uma necessidade pessoal, mas uma necessidade comunitária da Igreja. Enquanto filhos de Deus e enquanto Igreja, precisamos de “um novo impulso de vida espiritual, [por meio da] ... veneração da Palavra de Deus, que permanece para sempre”, como afirmou o Concílio Vaticano II, no Documento sobre a Palavra, Dei Verbum, n. 26. Só assim seremos testemunhas verdadeiras do amor de Deus a este nosso mundo tão carente de exemplos, muito mais do que de palavras.



Fará bem nos perguntar, uma vez ou outra, voltando ao que foi anotado, se fomos fiéis ao que aquela Palavra nos trouxe; se não, por que motivos? Então peçamos perdão e façamos um compromisso para a vida.



Vamos concluir, recordando que todos os passos da Lectio Divina foram vividos de forma sublime pela Santíssima Virgem Maria. Como modelo de acolhimento dócil da Palavra divina para todo o fiel, Ela “conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração” (Lc 2, 19; cf. 2, 51), e sabia encontrar o laço profundo que une os acontecimentos, às vezes aparentemente desconexos, no grande desígnio divino.



Avancemos na Leitura Orante, encontro autêntico com o Senhor Jesus Cristo!


Deus o abençoe!

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