Neste dia de São José, 19 de março, queremos olhar um pouco para este grande santo, da forma como o descreveu o Papa Francisco, na sua Carta Apostólica Patris Corde, de 8 de dezembro do ano de 2020, por ocasião dos 150 anos de declaração de São José Padroeiro Universal da Igreja.
Aprendamos com o Papa.
Com coração de pai: assim José amou a Jesus, designado nos quatro Evangelhos como «o filho de José».
Sabemos que era um humilde carpinteiro (cf. Mt 13, 55), desposado com Maria (cf. Mt 1, 18; Lc 1, 27); um «homem justo» (Mt 1, 19), sempre pronto a cumprir a vontade de Deus manifestada na sua Lei (cf. Lc 2, 22.27.39) e através de quatro sonhos (cf. Mt 1, 20; 2, 13.19.22). Depois de uma viagem longa e cansativa de Nazaré a Belém, viu o Messias nascer num estábulo, «por não haver lugar para eles» (Lc 2, 7) noutro sítio. Foi testemunha da adoração dos pastores (cf. Lc 2, 8-20) e dos Magos (cf. Mt 2, 1-12), que representavam respectivamente o povo de Israel e os povos pagãos.
No Templo, quarenta dias depois do nascimento, ofereceu o Menino ao Senhor e ouviu a profecia que Simeão fez a respeito de Jesus e Maria (cf. Lc 2, 22-35). Para defender Jesus de Herodes, residiu como forasteiro no Egito (cf. Mt 2, 13-18). Regressando à pátria, viveu no recôndito da pequena e ignorada cidade de Nazaré, na Galileia. Durante uma peregrinação a Jerusalém, José e Maria perderam Jesus, aos doze anos do menino e, angustiados, procuraram-no por 3 dias, encontrando-o no Templo, discutindo com os doutores da Lei (cf. Lc 2, 41-50).
Depois de Maria, a Mãe de Deus, nenhum Santo ocupa tanto espaço no magistério pontifício como José, seu esposo. O Beato Pio IX declarou-o «Padroeiro da Igreja Católica», o Venerável Pio XII apresentou-o como «Padroeiro dos operários», e São João Paulo II, como «Guardião do Redentor». O povo invoca-o como «padroeiro da boa morte».
De fato, todas as pessoas podem encontrar em São José – o homem que passa despercebido, o homem da presença quotidiana discreta e escondida – um intercessor, um amparo e uma guia nos momentos de dificuldade.
A grandeza de São José consiste no fato de ter sido o esposo de Maria e o pai de Jesus, colocando-se inteiramente ao serviço do plano salvífico.
Por seu papel na história da salvação, São José é um pai que foi sempre amado pelo povo cristão, como prova o fato de lhe terem sido dedicadas numerosas igrejas por todo o mundo; de muitos institutos religiosos, confrarias e grupos eclesiais se terem inspirado na sua espiritualidade e adotado o seu nome; e de, há séculos, se realizarem em sua honra várias representações sacras. Muitos santos e santas foram seus devotos apaixonados, entre os quais se conta Teresa de Ávila que o adotou como advogado e intercessor, recomendando-se instantemente a São José e recebendo todas as graças que lhe pedia; animada pela própria experiência, a santa persuadia os outros a serem igualmente devotos dele.
Em todo manual de orações, há sempre alguma a São José. São-lhe dirigidas invocações especiais todas as quartas-feiras e, de forma particular, durante o mês de março inteiro, tradicionalmente dedicado a ele.
Enquanto descendente de Davi (cf. Mt 1, 16.20), de cuja raiz deveria nascer Jesus segundo a promessa feita ao rei pelo profeta Natan (cf. 2 Sam 7), e como esposo de Maria de Nazaré, São José constitui a dobradiça que une o Antigo e o Novo Testamento.
Dia após dia, José via Jesus crescer «em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens» (Lc 2, 52). Como o Senhor fez com Israel, assim ele ensinou Jesus a andar, segurando-O pela mão: era para Ele como o pai que levanta o filho contra o seu rosto, inclinando-se para Ele a fim de Lhe dar de comer (cf. Os 11, 3-4).
Jesus viu a ternura de Deus em José: «Como um pai se compadece dos filhos, assim o Senhor Se compadece dos que O temem» (Sal 103, 13).
A vontade de Deus, a sua história e o seu projeto passam também através da angústia de José. Assim ele nos ensina que ter fé em Deus inclui acreditar que Ele pode intervir inclusive através dos nossos medos, das nossas fragilidades, da nossa fraqueza. E ensina-nos que, no meio das tempestades da vida, não devemos ter medo de deixar a Deus o leme da nossa barca. Por vezes queremos controlar tudo, mas o olhar d’Ele vê sempre mais longe. Em todas as circunstâncias da sua vida, José soube pronunciar o seu «fiat», como Maria na Anunciação e Jesus no Getsêmani.
Na sua função de chefe de família, José ensinou Jesus a ser submisso aos pais (cf. Lc 2, 51), segundo o mandamento de Deus (cf. Ex 20, 12). Ao longo da vida oculta em Nazaré, na escola de José, Jesus aprendeu a fazer a vontade do Pai. Tal vontade torna-se o seu alimento diário (cf. Jo 4, 34). Mesmo no momento mais difícil da sua vida, preferiu que se cumprisse a vontade do Pai, e não a sua.
A vida espiritual que José nos mostra, não é um caminho que se explica, mas um caminho que acolhe. José não é um homem resignado passivamente. O seu protagonismo é corajoso e forte. O acolhimento é um modo pelo qual se manifesta, na nossa vida, o dom da fortaleza que nos vem do Espírito Santo.
O acolhimento de José convida-nos a receber os outros, sem exclusões, tal como são, reservando uma predileção especial pelos mais frágeis, porque Deus escolhe o que é frágil (cf. 1 Cor 1, 27), é «pai dos órfãos e defensor das viúvas» (Sal 68, 6) e manda amar o estrangeiro.
O Evangelho não dá informações relativas ao tempo em que Maria, José e o Menino permaneceram no Egito. Mas certamente tiveram de comer, encontrar uma casa, um emprego. No fim de cada acontecimento que tem José como protagonista, o Evangelho observa que ele se levanta, toma consigo o Menino e sua mãe, e faz o que Deus lhe ordenou. Com efeito, Jesus e Maria, sua mãe, são o tesouro mais precioso da nossa fé.
Deus confia neste homem, e o mesmo faz Maria, que encontra em José aquele que não só lhe quer salvar a vida, mas sempre a sustentará a ela e ao Menino. Neste sentido, São José não pode deixar de ser o Guardião da Igreja, porque a Igreja é o prolongamento do Corpo de Cristo na história. Ao mesmo tempo, na maternidade da Igreja, espelha-se a maternidade de Maria. José, continuando a proteger a Igreja, continua a proteger o Menino e sua mãe; e também nós, amando a Igreja, continuamos a amar o Menino e sua mãe, amando os Sacramentos e a caridade, a Igreja e os pobres. Cada uma destas realidades é sempre o Menino e sua mãe.
Um aspecto que caracteriza São José – e tem sido evidenciado desde os dias da primeira encíclica social, a Rerum novarum de Leão XIII – é a sua relação com o trabalho. São José era um carpinteiro que trabalhou honestamente para garantir o sustento da sua família. Com ele, Jesus aprendeu o valor, a dignidade e a alegria do que significa comer o pão fruto do próprio trabalho.
José soube amar de maneira extraordinariamente livre. Nunca se colocou a si mesmo no centro; soube descentralizar-se, colocar Maria e Jesus no centro da sua vida. Um amor só é verdadeiramente amor, quando é casto. O amor que quer possuir acaba sempre por se tornar perigoso: prende, sufoca, torna infeliz. O próprio Deus amou o homem com amor casto, deixando-o livre inclusive de errar e opor-se a Ele. A lógica do amor é sempre uma lógica de liberdade.
A felicidade de José não se situa na lógica do sacrifício de si mesmo, mas na lógica do dom de si mesmo. Sempre soube que aquele Menino não era seu: fora simplesmente confiado aos seus cuidados.
«Levanta-te, toma o menino e sua mãe» (Mt 2, 13): diz o anjo da parte de Deus a são José. E foi o que ele sempre fez.
Os Santos ajudam todos os fiéis «a tender à santidade e perfeição do próprio estado». A sua vida é uma prova concreta de que é possível viver o Evangelho.
Que cresça nosso amor por este grande Santo, para nos sentirmos impelidos a implorar a sua intercessão e para imitarmos as suas virtudes e o seu desvelo. Clamemos dele a graça das graças: a nossa conversão.
Dirijamos-lhe a nossa oração:
Salve, guardião do Redentor e esposo da Virgem Maria! A vós, Deus confiou o seu Filho; em vós, Maria depositou a sua confiança; convosco, Cristo tornou-Se homem.
Ó Bem-aventurado José, mostrai-vos pai também para nós e guiai-nos no caminho da vida. Alcançai-nos graça, misericórdia e coragem, e defendei-nos de todo o mal. Amém.
Fonte: Carta Apostólica Patris Corde
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